16 de julho de 2011

Música e cultura descartável (ainda bem que tem gente boa trabalhando)








Estas imagens representam coisas boas e coisas negativas quando o assunto é música... Você escolhe!Vivemos em uma cultura que vem declinando a cada instante. Vemos esta queda refletida nas artes, falerei sobre a música. No Brasil a música passou por inúmeros momentos de altos e baixos,  na década de 50-60 viveu um momento que para muitos é o mais fértil e representativo deste país, a Bossa Nova, a canção tomada de teor de protesto contra a ditadura, o tropicalismo e os primeiros acessos a um Rock produzido aqui. A década de 70 marcou um ponto baixo com o surgimento da música brega, o fortalecimento de um estilo de música sem compromisso com nada, que foi a jovem guarda, e com apenas os herdeiros da década anterior marcando terreno apresentando uma música consistente: Guilherme Arantes, Chico Buarque, Belchior, Rita Lee, Raul Seixas, os velhos e os novos baianos, Zé Ramalho, entre outros. Na década de 80, vimos algo diferente emergir, com a onda das rádios FMs, os novos Festivais de MPB, a nova roupagem do rock nacional, e além de alguns citados que permaneceram depois dos anos 70, tivemos novos nomes, tal como Eduardo Dusek, Beto Guedes, etc. junto com os roqueiros: Kid Abelha, Titãs, Legião Urbana, Engenheiros do Havaí, Lulu Santos, 14 Bis, A Cor do Som, Ultraje a Rigor, Ira!, Paralamas do Sucesso entre inúmeros outros. Este período acompanhava a crise do regime militar e a redemocratização, junto com uma expansão da indústria cultural e do mercado consumidor composto pela juventude.
A década de 90 dá início a um movimento orientado para baixo e vimos surgir um desinteresse por boa música, por exemplo, bandas que foram montadas em programas de auditório e que duraram pouco, todavia, enquanto duraram, lançaram decadência em sementes por todos os lados, o fricote, o pagode de baixa qualidade até chegar ao funk-brega, velhas e novas bandas baianas, entre outros enganos.  Rita Lee, Lulu Santos, Chico Buarque, Djavan, Titãs, entre outros, deveriam ter encerrado suas carreiras antes de nos brindarem com suas últimas produções, fragéis e sem significados. Outros, como Caetano Veloso, precisam ficar pegando carona em novos artistas como Maria Gadú, que embora tenha muito potencial, já se tornou objeto de consumo dos produtores, pois, mal lançou o primeiro cd, lançou um Ao Vivo, sinal de que ou nao se tem um segundo preparado ou se deseja explorar ao máximo financeiramente a imagem do primeiro. Para não dizer que não falei das flores, o Padre Fábio de Melo que teve um sucesso grandioso com o cd Vida., lançou o Iluminar, foi seguido do Iluminar ao Vivo, sinal de que não há preocupação com o trabalho artístico e sim com o que se pode alcançar financeiramente! Por falar em artes, você lembra quando foi a última vez que Roupa Nova lançou um cd inédito? Muita coisa interessante continua sendo produzida, mas não alcança espaço na mídia pois qualidade não é coisa que chame a atenção. Agora, o que chama atenção são corpos e letras pornográficas, ou então letras mediocres que nada dizem para a vida das pessoas e conduzem os adolescentes a infantilização como é o caso de Restart, Hori (que é um nome cujo significado nem os integrantes conhecem), entre outras bandas que são o que essa cultura mediocre pode produzir. Então, não adianta muito se queixar porque uma geração infantilizada não tem como produzir coisas que não sejam infantis.  A nossa música está mergulhada na miséria, sem criatividade, sem senso crítivo, sem fervor! Quem é responsável? A indústria cultural pode ser apontada como a principal responsável pelo atual estado da MPB. Como o mercado consumidor deve se expandir cada vez mais, deve ser produzido uma cultura igualmente descartável para que se venda mais.  O centro matriz do nosso sistema de produção que é acumulador de riquezas e detentor dos bens de consumo, é o próprio consumo. Quanto mais se consumir, mais dinheiro fica, então quanto mais diversa for o que se tem para oferecer melhor para o mercado. Os produtos devem ser renovados em pequenos ciclos, garantindo mais e mais oferta e consequentemente mais e mais consumo. Se um estilo musical permanecer por muito tempo, então o consumo sofrerá quedas portanto, não vale a pena investir em materiais artisticos consistentes, o bom é se investir em coisas que acabem logo.  Assim, a transformação da MPB em cultura descartável apenas mostra que a lógica do lucro domina tudo, inclusive a produção cultural, e isto mostra a razão de seu progressivo empobrecimento. Mesmo artistas que possuem história e rico material artístico deve se render a esta lógica como foi o caso do Nando Reis que lançou um dvd-cd, no qual beira a negação de seu trabalho com determinadas parcerias. 
Agora estamos em uma encruzilhada: sempre que há mudanças na forma de ver a história e a sociedade, isto se reflete nas artes. E estamos em um mundo que sofre mudanças capazes de desafiar a estrutura de pensar humano, pois estas interferem na vida do ser humano e na sua sociedade.  Isso pode se refletir igualmente na música, mesmo contra a vontade dos donos da indústria musical, já que a contradição consiste em ter que se divulgar aquilo que é contrário aos interesses por ser assunto em pauta. No mar da contradição pode nascer a esperança de uma retomada da boa música.

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